Noções básicas de processamento de café

Diferentes graus de torrefacção do café, sete tipos desde grãos frescos crus até ao chocolate quente fino para café expresso.
Diferentes graus de torrefacção do café, sete tipos desde grãos frescos crus até ao chocolate quente fino para café expresso.

Falamos frequentemente de cultivar ou região que afecta a forma como um café tem sabor, mas igualmente importante é a forma como um café é processado. Duas técnicas – processamento natural (ou seco) e processamento lavado (ou húmido) – transformam o café cereja maduro em café verde que está pronto para exportação. Dentro destas duas técnicas, infinitas variações dão aos agricultores ou grupos de produtores a oportunidade de brilhar com a sua arte.

Saber o que significa natural e lavado irá ajudá-lo a compreender o que mais gosta nos nossos cafés, porque os dois métodos influenciam o sabor e o paladar de formas muito diferentes.

CAFÉ NATURAL: O MÉTODO ORIGINAL

Dos dois métodos, o processamento natural é a técnica mais antiga, em que o café cereja inteiro seca intacto em camas elevadas, pátios, ou esteiras. Quando a fruta está totalmente seca, ou é armazenada durante um período de meses ou é imediatamente descascada para remover a pele exterior e o pergaminho interior. Tudo o que resta são as duas sementes – mais comummente conhecidas como feijões.

O processamento natural teve origem em locais sem acesso fiável a água, como partes da Etiópia e do Iémen. A técnica faz sentido lá, onde as temperaturas são quentes e o sol é poderoso. Nestas condições, a cereja seca tem poucas hipóteses de mofo, em comparação com locais como Cobán, Guatemala, onde a névoa perpétua cai durante toda a época de colheita.

Quando bem processados, os cafés naturais articulam sabores frutados raramente experimentados em cafés lavados. Notas de mirtilo e morango podem perfumar uma chávena, de modo a que mesmo os novatos na degustação de café sejam capazes de identificar o sabor exacto. De uma forma muito real, os grãos absorvem as essências da polpa de secagem do fruto. É por isso que os cafés naturais exibem uma vasta gama de notas frutadas vívidas e, por vezes, semelhantes às do vinho, juntamente com maior corpo e menos acidez.

Mãos que estão a apanhar grãos de café do cafeeiro
Mãos que estão a apanhar grãos de café do cafeeiro

O processamento natural não é isento de riscos. Se as cerejas secas não forem frequentemente picadas, a fruta pode fermentar ou estragar, e o café resultante pode ter um sabor azedo ou levedado. Quando nos abastecemos de cafés naturais – muitas vezes da Etiópia, mas mais recentemente do Uganda e de Myanmar – procuramos clareza de sabores, sejam eles frutados, azedos, ou boozey. Para os naturais utilizados nas nossas misturas, vamos atrás de cafés com xarope e geleia que têm um final persistente de fruta. Os cafés naturais são emocionantes, porque têm o potencial de mostrar o terroir de uma região de uma forma única – resultado do contacto prolongado dos grãos de café com a fruta original.

CAFÉ LAVADO: O MÉTODO MAIS CONSISTENTE

A maioria do café que a maioria das pessoas bebe é café lavado, ou café que tenha sido processado húmido. É o mais fiável dos dois métodos, produzindo café com maior acidez, o que é apenas mais uma forma de dizer brilho. (Pode não se identificar com a palavra «acidez», mas é uma qualidade que tanto os produtores como os torrefacções procuram na maior parte das chávenas).

O método básico começa com o envio da cereja de café recém-colhida através de uma máquina de polpa, que remove a pele exterior enquanto deixa a polpa (também chamada mucilagem) agarrada às sementes no interior. As sementes cobertas de polpa são depois embebidas em água e periodicamente agitadas para encorajar a polpa a cair. Segue-se a fermentação, onde as sementes ficam em água entre algumas horas a alguns dias, dependendo do clima, do equipamento utilizado, e da preferência do produtor.

Após a fermentação, os feijões são enxaguados minuciosamente e depois secos, quer ao ar livre em canteiros elevados, quer num secador mecânico. O clima e o equipamento ditam quantos dias são necessários para esta etapa final.

ESPAÇO PARA INTERPRETAÇÃO: PROCESSO DE MEL E CASCAS MOLHADAS

Alguns países produtores de café têm métodos de processamento idiossincráticos que vieram definir os perfis do café do país. O Quénia, por exemplo, fermenta os grãos de café durante um período mais longo, que são depois limpos por uma imersão pós-fermentação. Este método contribui directamente para a acidez que é a marca distintiva dos melhores cafés do país.

O Brasil é conhecido pelo processamento natural de polpa, que cai algures entre o processamento húmido e seco. A pele do café cereja é removida, como no processamento húmido, mas em vez de embeber a cereja, é espalhada para secar com a polpa ainda presa aos grãos. O resultado é um café com corpo e baixa acidez, como um natural, mas sem os frutos vívidos reveladores. Este processo também se chama mel, e os produtores, particularmente em cafés especiais, gostam de brincar com a quantidade de polpa de fruta que deixam, num esforço para mover o calibre para ou longe das características naturais ou lavadas.

Nas mãos que transportam grãos de café
Nas mãos que transportam grãos de café

Sumatra tem um método inteiramente único, o basah em óleo, ou casco molhado, que contribui para a terra, corpo, e baixa acidez pela qual o café do país é conhecido. Semelhante ao processamento natural, a pele é removida e os grãos, com polpa aderente, secos. Mas, o período de secagem dura um ou dois dias, na melhor das hipóteses. O pergaminho é então removido quando os níveis de humidade são incrivelmente elevados. Os feijões, que são bastante delicados neste estado, são dispostos a secar novamente, quer nos processadores, quer ao longo do caminho para a exportação. O café processado desta forma absorve qualidades da terra ou do asfalto sobre o qual seca – mas é em parte o que faz os perfis de Sumatra numa classe própria.

UMA QUESTÃO DE PREFERÊNCIA

Transportamos cafés naturais e lavados porque achamos a gama de sabores excitante. Para alguns, o seu primeiro gole de um natural pode abrir os olhos. Para outros, viola a sua própria ideia do que o café deve ser. Tendemos a acreditar que o café não é uma coisa qualquer; é uma fruta que precisa de manipulação para se tornar a bebida que amamos. Agricultores e processadores de todo o mundo adoptaram os métodos que fazem mais sentido para o seu clima, acesso à água, e tradições culturais.